quinta-feira, 18 de abril de 2013

“Nós, pessoas de bem...” SQN




Eu nem ligo de ler e-mails de gente que não conheço. Claro, não abro nada que tenha vírus, coisas suspeitas...ultimamente tudo anda tão suspeito. Vá lá. Enfim, hoje abri meu e-mail e tinha lá algo como Vitória em Jesus, e no assunto: “Manifesto evangélico”. Abri mesmo porque minha vontade de ler foi maior que outra coisa. E fiquei de cara.
Dizia assim: "Seu objetivo principal é marcar a posição dos evangélicos contra o controle da mídia, a censura da opinião, a descriminalização do aborto e a aprovação do casamento gay, projetos esses que são uma afronta à democracia, à vida e à família tradicional". Aí fiquei pensando que talvez, mesmo não sendo evangélica, eu talvez pertencesse ao grupo como “família tradicional”. Sim, porque sou casada, tenho filhos, dois cachorros, casa, carro, micro-ondas e por certo...não sendo espiã, nem tendo nenhum corpo enterrado no meu quintal, pareço de longe, bem normal, e até meio tradicional...como mães, mulheres de quase 40 devem ser...entende¿
Pois bem, sendo eu uma mulherdequase40quasetradicional, estremeci ao pensar que muita gente se utiliza disso pra falar em meu nome. Então digamos que toda a família tradicional,- essa mesmo com os filhinhos, cachorros e calopsitas (tadinhas!) - representa uma parte da sociedade que teme e desaprova a manipulação da mídia, o casamento gay, aborto e de quebra consideram tudo isso uma afronta à democracia. Procede? Todo mundo pensa assim? Fiquei com vergonha, não vou mentir. 
Pensando bem, mas bem mesmo, ter uma família tradicional é quase pertencer a um clube fechado e santificado. Porque cagadas não acontecem em família, tão pouco amigos gays que convivem com as crianças desde que elas eram bem crianças. Ter um a família, te coloca na exceção e te dá super-poderes pra avaliar o outro, sem que possa ser atingido por qualquer colocação, porque afinal de contas, vc é tradicional, tem aí uns “ bons costumes”....
Quer dizer então, que pertencendo a esse grupo, você ganha uma espécie de imunidade, que te permite julgar o que é uma afronta, e escolher quem pode ou não ser amado. Quem pode ou não casar, mentir ou abortar. Falta de tolerância, vale então?
Fiquei com vontade de responder o e-mail com um sonoro: Vão pro inferno! Mas achei que isso não cabia na situação. Não tenho raiva, mesmo. Tenho um pouco de medo, de quem se intitula “o povo de Deus”, agir como se fossem os únicos a habitar esse gigantesco planeta, de sentir e deter o que é verdade, “ o que é bom”. Tá aí outra coisa que me tira do sério...” nós, pessoas de bem”. Quem disse? O padre? O pastor? A mãe menininha? Gente, por favor, deixem que do meu livre arbítrio, cuido eu.

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